quinta-feira, 10 de março de 2016

Telegrama II

Anja Millen

Para ler ouvindo Sigur Rós

Chove. Chove e faz sol. Tudo e sempre junto. O dia inteiro catástrofe. E pequenas alegrias. Um ronco de motocicleta violenta o silêncio das máquinas. Chove também nos pneus. Ouve-se o gozo da água no atrito. E o assobio atrasado do pássaro. Os gatos enfileirados na janela. O cachorro com tristeza de lua. Nada de rãs. A fome de obituário crescendo na entrelinha. Anotação para o futuro (que já é e nesse instante não é mais): abolir reticências. Cortejar o branco da página com a fundura. E a beleza dos buracos negros. Um pouco mais. Um pouco mais. A quinta, a derradeira, pendurada como judas em dia de. Chove. Chove e faz sol. Tudo e sempre junto. A noite toda catástrofe. E pequenas alegrias.


2 comentários:

Marilia Kubota disse...

Que bom que chove por aí. Tenho a impressão de que as palavras secaram dentro de mim.

Drica disse...

bonito ((( O )))