sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Passagem

Caimin Jones

Para ler ouvindo Sinatra

Agosto se foi.

Levou para longe o susto da varanda destelhada na ventania, os latidos do cão na casa vizinha, a melodia triste dos sapos no campinho de futebol, o caminhão entulhado de móveis, livros, brinquedos, bugigangas e o cheiro do asfalto – substituído pelo das vacas que pastam lânguidas à sombra das montanhas.

Agosto se foi arrastando as migalhas da poesia que eu julgava alimentar. Partiu zombeteiro e solene ao mesmo tempo. Atropelando promessas, inquietudes, utopias – seu último som foi o de xícaras quebradas no azulejo branco e frio da cozinha.

Levou consigo quase todos os meus silêncios. E ainda ensaios de setembro, outubro: as chuvas fora de época, os beija-flores em festa, o colorido das primeiras margaridas, as juras renovadas dos casais ao redor da nogueira, nos bancos das praças, as saias floridas espalhas por ruas, ônibus, calçadas, os engarrafamentos que anunciam mais um fim de ano, as greves, as noites mal dormidas do horário de verão.

Não, não há mais cheiro de agosto no hálito das manhãs. Não porque a vida passa velozmente, assim como os carros, as sombras, as luas, os anos. Mas só porque agosto se foi...

E novembro me pegou desprevenida na cama.

Nenhum comentário: