quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Lua cheia

René Magritte

E porque a lua me espiava da janela, desisti de dormir. Sob a clara luz que varava as grades de ferro azul vi surgir, uma a uma, as frágeis criaturas.

São muitas e há tanto tempo me acompanham que chega a ser imperdoável o fato de eu não as conhecer de todo. Mas o que é o conhecimento do outro quando nós mesmos somos um poço de obscuridade?

Então suspiro. Quase no mesmo instante em que pressinto o semblante triste daquele que outrora deve ter sido um grande amor. Os olhos fundos, a tez cansada, as mãos atadas por cordas invisíveis. Serão nós de marinheiro que o seguram na escuridão?

Não há resposta. Os fantasmas não falam a nossa língua.

(Lá no canto, a sombra de uma saia balança meus pensamentos: é a menina com seu vestido de bolinhas)

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