René Magritte
E porque a lua me espiava da
janela, desisti de dormir. Sob a clara luz que varava as grades de ferro azul vi
surgir, uma a uma, as frágeis criaturas.
São muitas e há tanto tempo me acompanham que chega a ser imperdoável o fato de eu não as conhecer de todo. Mas o que é o conhecimento do outro quando nós mesmos somos um poço de obscuridade?
Então suspiro. Quase no mesmo instante em que pressinto o semblante triste daquele que outrora deve ter sido um grande amor. Os olhos fundos, a tez cansada, as mãos atadas por cordas invisíveis. Serão nós de marinheiro que o seguram na escuridão?
Não há resposta. Os fantasmas não falam a nossa língua.
(Lá no canto, a sombra de uma saia balança meus pensamentos: é a menina com seu vestido de bolinhas)
Nenhum comentário:
Postar um comentário