Anja Millen
Para ler ouvindo Sigur Rós
Chove. Chove e faz sol. Tudo e
sempre junto. O dia inteiro catástrofe. E pequenas alegrias. Um ronco de
motocicleta violenta o silêncio das máquinas. Chove também nos pneus. Ouve-se o
gozo da água no atrito. E o assobio atrasado do pássaro. Os gatos enfileirados
na janela. O cachorro com tristeza de lua. Nada de rãs. A fome de obituário
crescendo na entrelinha. Anotação para o futuro (que já é e nesse instante não
é mais): abolir reticências. Cortejar o branco da página com a fundura. E a
beleza dos buracos negros. Um pouco mais. Um pouco mais. A quinta, a
derradeira, pendurada como judas em dia de. Chove. Chove e faz sol.
Tudo e sempre junto. A noite toda catástrofe. E pequenas alegrias.
2 comentários:
Que bom que chove por aí. Tenho a impressão de que as palavras secaram dentro de mim.
bonito ((( O )))
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