quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Cinco minutos para viver

Ilustração retirada daqui

Para ler ouvindo Dalva de Oliveira

Refaço os passos dessa manhã perdida em um novembro que escapa pelos meus dedos. E então olho para os últimos cigarros. Restam-me cinco. Vejo-os alinhados na caixa que há meses deixou de ser aquela que eu levava na bolsa, no bolso, na mão.

Mudaram-lhe o nome e devo confessar que vi nisso uma traição. Tanto que tentei abandonar a marca, mas ciente de que a solitária decisão não faria a menor diferença para aqueles que alteraram meu raro prazer, desisti.

Talvez tenha sido ali, naquele momento que agora não sei precisar, que ela nasceu. Uma semente partida, na qual ninguém depositaria fé. Mas que sei lá por quais razões transformou-se nesse galho, quase invisível, que me sustenta enquanto escrevo.

É debruçada nele que sigo olhando a fumaça. Penso na relação simbiótica que construí, nos últimos vinte anos, com esses longos, brancos e determinantes cigarros. A filha, outro dia, me chamou a atenção: Por que falar tanto neles? Quis usar a verdade, mas como dizer-lhe que fumo para respirar?

Minhas mãos tremem levemente e sinto nas palmas o suor escorrer sem destino. Agora somos apenas eu e mais três cigarros. O isqueiro foi antes. Acabou ontem. Uso fósforos desde então. Coisa mais desagradável, essa! Detesto o cheiro de pólvora e os palitos congestionando o cinzeiro. Mas como vingança, mantenho-os. Porque sei que logo não os verei pela casa.

Ah, quanto sofrimento me aguarda!

Por isso peço paciência, leitor. É provável que eu suma. Que eu leve tempo para reaprender as palavras. Talvez eu as lave, e assim como o meu pulmão, possa vê-las novamente límpidas. Mas quem pode garantir?

Daqui a cinco minutos acenderei o último cigarro da caixa. E então darei três passos em direção ao lixo, enterrando nele esse delicioso vício do qual já quase sinto saudade.

(Há um silêncio atropelando a gradativa morte, como se minhas palavras buscassem nesse fio tênue o seu DNA).


P.S. Cinco horas após ter fumado o último cigarro, eu estava subindo as paredes. Sai na chuva para comprar uma carteira... Quem sabe na próxima quinta!

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá, querida!

É difícil, muito difícil mesmo largar esta porcaria.

Ando sumida por conta dos males dos meus pés.

Um grnde abraço em todos daí.

Beijos

Leila Jalul

Anônimo disse...

VÁSSIA, QUERIDA, PELO VISTO O INGRATO NÃO VOLTOU E CONTINUAS A MANDAR ESPIRAIS DE FUMAÇA PELO AR.
SE NÃO HÁ TEXTO NOVO, PREVALECE O QUE ESTÁ DITO NO VELHO! ESTOU ERRADA?
FALA PARA O MARCOS AFONSO QUE ENJOEI DA CARA DO NILSON MOURÃO QUE ESTÁ HÁ MAIS DE DOIS MESES EM EXPOSIÇÃO NO VARAL. A RODA, RODA!!!
O SEGREDO DO BLOG É FICAR LIGADO!!! MARGARIDAS MORTAS NÃO NÃO FAZEM UMA PRIMAVERA!!! RSRSRS

LEILA JALUL