quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

De volta às raízes


*Para ler ouvindo Cartola

Ah, o Natal! Se pudesse, arrumaria minha trouxa – calça, sapato, camiseta, analgésico, livro, escova, óculos, caneta, papel – e partiria para uma colocação distante, com uma casinha de paxiúba, perto de um rio. Sem árvores de plástico, pisca-pisca, presentes e o brilho artificial de abraços guardados o ano inteiro junto às bolas vermelhas, verdes, douradas.

Perdoe-me, leitor, mas não gosto da data – ou será esse sentimento apenas uma prova de minha recém adquirida rabugice? E por falar nela, hoje fui convidada a reclamar. Ideia do amigo escriba Marcos Vinicius, que poderia derramar a letra de seu pote, mas preferiu me incumbir da tarefa.

O caso é simples, mas merece atenção. Trata-se do antigo bar que funcionava no Teatro Plácido de Castro. Pouco desfrutei dele, mas isso não me impediu de hoje sentir saudade das garrafas que cumprem tão bem o papel de matar a sede dos poetas, na hora do intervalo.

“Abrir um bar aqui é voltar às nossas raízes”, disse alguém na roda de fumantes, enquanto a lua ensaiava o esvaziar-se. Deus me livre fazer campanha do tipo! Tenho medo da reação dos evangélicos de plantão, dos adeptos à abstinência, dos médicos, dos advogados. E também dos pais.

Por outro lado, vejam, minhas recordações vão de encontro às raízes etílicas da boemia, com seu legado de música, literatura e sonhos. Eu era moleca, é verdade, mas sei dizer das discussões que varavam as madrugadas no Casarão e no Jirau. Conheço-as de memória, de ouvir contar dos pais, dos amigos dos pais, hoje um pouco também meus.

Ora, e por onde anda essa gente? Muitos deixaram que crescessem a barba, a barriga e o desejo de ficar em casa enquanto os filhos e alguns netos caminham em busca de respostas em um mundo quase sem poesia. Outros, inquietos por natureza, vagam a procura de uma mesa amiga.

Aqui e acolá encontro um. Geralmente no Casarão, agora restaurado. E então me dou conta que alguns espaços têm a capacidade de manter aceso o espírito de uma ou mais gerações.

Não seria este também o caso do bar no Teatrão?

Por favor, não me interpretem mal: Longe de mim, fazer apologia ao álcool. Mas que faz falta uma cerveja gelada ou uma taça de vinho entre um ato e outro de alguns espetáculos, ah, faz!

E Baco sabia disso.

2 comentários:

Anônimo disse...

MINHA QUERIDA VÁSSIA,

TOMO EMPRESTADO O TEU LÁPIS, O PAPEL E AS LETRAS PARA FAZER A MESMA CRÔNICA, COM O MESMO TÍTULO E OS MESMOS SENTIMENTOS.

ARRUMA UM LUGAR NA COLOCAÇÃO (PENSE NUMA AINDA MAIS DISTANTE), VEJA SE A CARAPANAÚBA AGUENTA ATAR MAIS UMA REDE E RESERVE-A PARA ESTA AMIGA QUE ESTÁ GORDA E SEM NEXO. E SEM RUMO!

QUERO E PRECISO, ENTRE CONVERSAS E COPOS DE FUMAÇA, DIZER DO EVANGELHO DA LIBERDADE QUE SEMPRE PROCUREI PRESENTEAR AOS QUE POR MIM PASSARAM NAS NOITES DE LUAS QUE VERTIAM VINHOS, CERVEJAS E POESIAS DE SEUS BURACOS GUARDADOS POR SÃO JORGE. PARECE PORRALOUQUICE, MAS É O MAIS SALUTAR DOS DESEJOS.

LEILA

Gil Maulin disse...

cartola: preciso me encontrar. essa foi a minha dica para escutar tua crônica.
os bares são espaços que servem de devaneio para o espírito. para o ato do encontro e do desencontro.