quinta-feira, 8 de março de 2012

Se (ou quando) der

Esta é Viola Dana (musa do cinema mudo)


Para Onides Bonaccorsi Queiroz

Promessa é dívida. Não arrisco falar sobre as circunstâncias históricas que cunharam a frase, mas sei reconhecer que é antiga – minha avó conta que o avô dela, portanto, meu tataravô, afiava o bigode quando pronunciava o dito. Uma imagem meio romântica, cuja singularidade e força foram estropiando-se ao longo das décadas. Até perderem definitivamente sua importância diante das urgências que atravessam o que antes era tido como sagrado: a palavra empenhada.

O assunto me angustia desde novembro do ano passado, quando às quintas-feiras, a promessa implícita no título deste espaço vem me lamber a cara, ferir os olhos e cortar a carne. Sim, também cresci sob o signo da cartilha “promessa é dívida”. E ainda que a minha tenha sido feita na inocência da poesia, sofro com a incapacidade de cumpri-la.

Relembrando os últimos silêncios, vou ao encontro de mensagens de amigos. Uns, brincalhões, sugerem que eu mude o título do blog “Que tal de vez em quando?”; outros, mais sentimentais, dizem sentir a falta dos textos. A ambos eu procuro devolver a verdade: o silêncio me angustia e alimenta.

Porque defendo a idéia de que o texto não existe somente na superfície do papel ou da tela – minhas histórias habitam, sobretudo, o não-espaço; estão escritas e respiram a imaterialidade, o porvir. É possível que o leitor jamais as leia? Não tenho como responder. O que sei é que apesar de reconhecer no mundo e em cada ser vivo, uma infinita promessa, tenho aversão às dívidas.

Apesar disso, vivo contraindo-as. A última foi com uma colega de Porto Alegre, a Áurea. Natural de Florianópolis, ela vive há anos na capital gaúcha e entre tantas outras ausências, guarda da terra natal a saudade da farinha rala e do peixe feito pelo seu Vadinho, na Praia do Pântano do Sul – prometi a ela que tão logo saboreasse o prato escreveria uma crônica contando a história toda. Como esta, tenho anotadas pelo menos outras cinco: o horror das filas no trevo do Campeche; o primeiro beijo de língua da primogênita; a falta que o cigarro não faz; as lições da chuva e a aventura de ‘hablar otra lengua’.

Todas, histórias rabiscadas em papeis invisíveis. Guardadas em gavetas que cheiram a nozes e terra molhada. Promessas quase sempre penduradas em vírgulas, exclamações, reticências. Vestidas da mesma inocência do “Sim” proferido no altar – Ai, quantas veredas entre o sim e o não!

Portanto, caro leitor, cara leitora, o que posso dizer em relação à implícita promessa no título deste espaço, é que toda quinta me soa bem. Gosto da cadência e do desenho formado pelas letras. Fiel a esse sentimento, não pretendo mudar o nome do blog, ainda que eu viesse sofrendo, a cada semana de silêncio, um misto de fracasso e culpa.

Mas prometo, a partir de agora, que serei cumpridora de minha palavra! Por isso, e porque me agradam também as coisas invisíveis, aviso que inclui em letras de fonte diáfana, tamanho zero, cor nada-chumbo um adendo ao título. De forma que, a partir de hoje, escreverei sim, Toda Quinta – Se (ou quando) der.


P.S Coincidência ou não, este texto foi escrito e publicado por mim em março de 2010, no dia 18. Resolvi postá-lo novamente porque não consegui escrever nada antes e minha terceira jornada não costuma dar folga no Dia Internacional da Mulher. Ah, e também em resposta a um comentário sobre eu ter dado o nome Toda Quinta ao blog: não foi coragem, foi teimosia. Ou burrice mesmo.

2 comentários:

Fernando disse...

Buh!

Anônimo disse...

Faça quando puder. E se puder.
Afrouxe a gravata do pescoço e não dê tratos à bola!
Escrever por obrigação não é legal, a não ser por dever de ofício.
Leila