Esta é Viola Dana (musa do cinema mudo)
Para Onides Bonaccorsi Queiroz
Promessa é dívida. Não arrisco falar sobre as circunstâncias
históricas que cunharam a frase, mas sei reconhecer que é antiga – minha avó
conta que o avô dela, portanto, meu tataravô, afiava o bigode quando
pronunciava o dito. Uma imagem meio romântica, cuja singularidade e força foram
estropiando-se ao longo das décadas. Até perderem definitivamente sua
importância diante das urgências que atravessam o que antes era tido como
sagrado: a palavra empenhada.
O assunto me angustia desde novembro do ano passado, quando
às quintas-feiras, a promessa implícita no título deste espaço vem me lamber a
cara, ferir os olhos e cortar a carne. Sim, também cresci sob o signo da
cartilha “promessa é dívida”. E ainda que a minha tenha sido feita na inocência
da poesia, sofro com a incapacidade de cumpri-la.
Relembrando os últimos silêncios, vou ao encontro de
mensagens de amigos. Uns, brincalhões, sugerem que eu mude o título do blog
“Que tal de vez em quando?”; outros, mais sentimentais, dizem sentir a falta
dos textos. A ambos eu procuro devolver a verdade: o silêncio me angustia e
alimenta.
Porque defendo a idéia de que o texto não existe somente na
superfície do papel ou da tela – minhas histórias habitam, sobretudo, o
não-espaço; estão escritas e respiram a imaterialidade, o porvir. É possível
que o leitor jamais as leia? Não tenho como responder. O que sei é que apesar
de reconhecer no mundo e em cada ser vivo, uma infinita promessa, tenho aversão
às dívidas.
Apesar disso, vivo contraindo-as. A última foi com uma colega
de Porto Alegre, a Áurea. Natural de Florianópolis, ela vive há anos na capital
gaúcha e entre tantas outras ausências, guarda da terra natal a saudade da
farinha rala e do peixe feito pelo seu Vadinho, na Praia do Pântano do Sul –
prometi a ela que tão logo saboreasse o prato escreveria uma crônica contando a
história toda. Como esta, tenho anotadas pelo menos outras cinco: o horror das
filas no trevo do Campeche; o primeiro beijo de língua da primogênita; a falta
que o cigarro não faz; as lições da chuva e a aventura de ‘hablar otra lengua’.
Todas, histórias rabiscadas em papeis invisíveis. Guardadas
em gavetas que cheiram a nozes e terra molhada. Promessas quase sempre
penduradas em vírgulas, exclamações, reticências. Vestidas da mesma inocência
do “Sim” proferido no altar – Ai, quantas veredas entre o sim e o não!
Portanto, caro leitor, cara leitora, o que posso dizer em
relação à implícita promessa no título deste espaço, é que toda quinta me soa
bem. Gosto da cadência e do desenho formado pelas letras. Fiel a esse
sentimento, não pretendo mudar o nome do blog, ainda que eu viesse sofrendo, a
cada semana de silêncio, um misto de fracasso e culpa.
Mas prometo, a partir de agora, que serei cumpridora de
minha palavra! Por isso, e porque me agradam também as coisas invisíveis, aviso
que inclui em letras de fonte diáfana, tamanho zero, cor nada-chumbo um adendo
ao título. De forma que, a partir de hoje, escreverei sim, Toda Quinta – Se (ou
quando) der.
P.S Coincidência ou não, este texto foi escrito e publicado por mim em março de 2010, no dia 18. Resolvi postá-lo novamente porque não consegui escrever nada antes e minha terceira jornada não costuma dar folga no Dia Internacional da Mulher. Ah, e também em resposta a um comentário sobre eu ter dado o nome Toda Quinta ao blog: não foi coragem, foi teimosia. Ou burrice mesmo.
2 comentários:
Buh!
Faça quando puder. E se puder.
Afrouxe a gravata do pescoço e não dê tratos à bola!
Escrever por obrigação não é legal, a não ser por dever de ofício.
Leila
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