Imagem do Marabaixo
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
Carlos Drummond de Andrade
Vejam que o espírito de cigana jamais
foi suficiente para borrar os caminhos de rios que correm silenciosos em minhas
veias, a umidade das matas, o barulho dos bichos, o mistério que paira sob as
folhas caídas e acima da copa das árvores.
Ninguém que nasce na grande floresta vive impunemente sem ela.
Mas, ah, como sofrem os filhos que amam a terra! E se digo isso agora, após um silêncio autoimposto, não é por estar cansada – perdoe-me leitor, a divagação, é que desaprendi o trato com as palavras –, e sim pelo efeito que produziu, e ainda reina em mim, a 1ª Feira do Livro do Amapá. Eu diria que o desabafo, portanto, é como soluço de criança.
Mais de dez anos separam a vida que vivi na beira do Rio Amazonas e meu retorno à Macapá. Mas como são misteriosas as impressões que grudamos na existência, o trajeto entre o aeroporto da cidade e o hotel foi suficiente para me ver com as mãos sujas de camarão, a língua escura de açaí, a saia rodando ao som do marabaixo e o batuque, traçando parte das histórias que explicam o que hoje sou.
É bom sentir-se em casa. Receber abraços fraternos e alimentar a alma com a simplicidade de quem sabe o quanto valem suas raízes. Sim, é bom ser lembrada. Afinal, que filho não sonha ter a memória acariciada pelos pais?
Eu sei, leitor, que devo agora estar lhe aborrecendo. Mas perdoe esta alma teimosa e sentimental. Perdoe a ingênua necessidade de celebrar a alegria de ver aquela, que também é minha cidade, tomada por leitores e livros. De compartilhar com crianças, jovens e adultos, filhos ou não da floresta, parte do que sou, do que fiz, do que sonho.
Porque são esses lugares que me explicam. E ainda que algumas vezes eu corra o risco de encontrá-los com a porta semicerrada, é sempre neles que minha alma procura abrigo.
Mesmo à distância.
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