quinta-feira, 19 de junho de 2014

Marola



Para ler ouvindo
Gal


E tu chegaste sem que eu pudesse pressentir. Vieste em hora de tempestades, sem saber que o coração batia ao som de uma canção longínqua, ancestral, dessas que arrepiam o pelo e fazem perder o sono.

Mas não deste ouvidos: Eu te falei do que sentia e tu sorriste. Tua vontade era maior que a minha resistência. Achei terno, então. E me deixei dobrar por teus braços. Há quanto tempo me esperavas? Não ousei perguntar. Segui tua fome e me deixei impregnar dela.

Então me fizeste ver que o céu não estava mais tão cinza. E que era possível ouvir o canto das andorinhas anunciando verão – mesmo no inverno?!  Era a fome voltando com toda a sua intensidade e brandura.

Tu, tão jovem e cheio de sonhos. Enquanto eu, cansada, me contento em deitar na grama para ver o espetáculo da lua. Em qual domingo nos encontramos? Tu me fala então da fome, dos desejos, da febre que pulsa no risco de cada poema teu. Eu entendo. Mas tenho receio.

Gosto da liberdade que roça a face na brisa da tarde: Tu me queres inteira, mas sou toda pedaços, rascunhos de uma vida que a realidade não abarca.

Então olhamos o mar. É madrugada. Há um silêncio que conforta, para além do barulho das poucas ondas que quebram na praia. Teu semblante é tão tranquilo.

Mas teus olhos cospem fogo. Evito-os.

E, por segurança e preguiça, deixo que o corpo siga apenas a coreografia das tuas mãos.


3 comentários:

Jalul disse...

Impróprio para velhinhas que ainda pulsam nas noites de lua minguante.

Vássia Silveira disse...

Será impróprio mesmo, Leila??

Marilia Kubota disse...

Bonito.